05.02.2010

Para o chefe do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, Airton Spies, as perspectivas do setor são muito boas. O clima está colaborando para uma boa safra e há diversos programas de apoio disponíveis aos agricultores familiares, como o Pronaf por exemplo, além do SC Rural, parceria entre o Governo do Estado e Banco Mundial, que vai investir 180 milhões de dólares no setor nos próximos 6 anos para alavancar o desenvolvimento rural, com sustentabilidade.

Para os agricultores familiares, que representam mais de 90% do  total dos quase 200 mil estabelecimentos rurais do estado, a  alternativa é a diversificação da produção, o planejamento, a melhoria  da gestão da propriedade e principalmente a sua organização em forma  de cooperativas e associações para ganhar escala, viabilizar estrutura de armazenagem e com isso acesso ao  mercado. “É importante produzir produtos de alta densidade econômica, que permitam gerar maior renda por área de terra, e ainda, agregar valor a esses  produtos”, afirma Spies, complementando que, com isso, é possível gerar uma renda capaz de manter e atrair os jovens para o campo, já que serão eles os sucessores da  geração de produtores atuais.

Há boas chances dos produtores saírem do endividamento, com essa boa safra anunciada, segundo Spies. Para pagar as dívidas, o agricultor precisa de lucro e o lucro é resultado de uma boa produtividade e de um bom desempenho no mercado (bons preços).  A  metade da equação para bons lucros está garantida, que é a produção.  Sobre a outra metade (preço), ainda há dúvidas, pois depende do comportamento do mercado global, além dos custos de produção que, neste momento, já estão consolidados.

Segundo Spies, para a Safra 2009/2010, Santa Catarina espera uma colheita “cheia”  para o setor de grãos já que estamos sob o efeito do fenômeno El Niño,  que proporciona um verão muito chuvoso, com chuvas frequentes e bem  distribuídas em todo o território catarinense. Assim, a produção de
milho e soja deverá ser recorde, também pelas altas produtividades. “Espera-se que no período de colheita, que acontece a partir de março, as chuvas
diminuam”, afirma Spies, lembrando que nos últimos 7 anos SC teve perdas expressivas em 5  safras na produção agrícola devido à estiagens. Mais de 80% da perda  de produção de grãos é devido ao stress hídrico, o que não ocorre  nesta safra.

Spies alerta, no entanto, que é preciso urgentemente investir em sistemas de captação, armazenagem  e utilização da água da chuva em irrigação de lavouras. “Nesta safra  estamos sob o efeito do El Niño, como já falei, mas a próxima seca não é uma questão de “se”, mas sim uma  questão de “quando” ela virá”, disse Spies que acha fundamental a preparação para trabalhar cada vez mais com agricultura irrigada, principalmente a  agricultura familiar, que deve focar suas atividades nas culturas e criações de  alta densidade econômica, que são aquelas que dão grande renda em pequenas  áreas. “Felizmente SC possui uma média de quase 2000 mm de chuva por  ano, mas esta água ainda é desperdiçada”, lamenta Spies.

As pastagens também estão crescendo muito bem, aproveitando-se do
calor e da umidade. Com isso, a produção de leite e carne bovina  também é beneficiada. Vale destacar que a produção de leite é a atividade que mais  cresce em SC, tendo apresentado crescimento acima de 15% ao ano. SC já  produz mais de 2 bilhões de litros de leite por ano.

A produção de arroz não foi significativamente afetada pelo  aumento das chuvas neste ano. Apesar de chover muito, em SC não houve alagamento das várzeas, o que aconteceu no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor de arroz, o  que pode ser uma boa notícia para os produtores catarinenses, em  função de expectativa de preços melhores.

Com relação aos suínos e aves, a produção ganha com o aumento de oferta de grãos, embora a suinocultura tenha sofrido grave crise em 2009, por causa dos preços baixos e o setor de carne de frangos tenha sido fortemente  afetado pela retração no mercado internacional, como consequencia da  crise financeira internacional.

Segundo Spies, a produção agrícola e o mercado de  commodities como o milho e a soja  estão sujeitos às regras de oferta de demanda. Se a produção for muito  grande, a  oferta aumenta e os preços podem cair. Deve-se lembrar,no entanto, que a produção catarinense de milho e soja é pequena diante  do volume nacional (fica em torno de 5%) e portanto uma supersafra em SC  não faz o preço do mercado isoladamente cair. O Estado é deficitário na  produção de milho e soja, pelo grande volume consumido na produção  de suínos e aves. Por isso, é preciso ficar de olho na produção do RS,  PR, MS, MT e GO, que são grandes produtores dessas commodities.

Para Spies, a grande preocupação dos produtores rurais continua sendo acesso a  mercado e a bons preços para seus produtos. “Esse dilema se acentua em anos de grande oferta, como deverá ser a próxima colheita”, acredita.

Mais informações: Airton Spies/Chefe da Epagri/Cepa, no telefone: (48 – 3239-3960), e-mail: spies@epagri.sc.gov.br