10.02.2010

Bióloga com doutorado em Imunologia pela Universidade de São Paulo, a pesquisadora Adriana Malheiro tem uma história peculiar com a região Norte. Chegou ao Amazonas incentivada pelo Programa de Desenvolvimento Regional (DCR), fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que consiste em apoiar doutores titulados em outros Estados interessados em desenvolver pesquisas em instituições locais e, por aqui, completa cinco anos de residência em 2010.

Professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pesquisadora da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), Malheiro coordena, junto com o médico cardiologista Jaime Arnez, uma pesquisa com células-tronco em pacientes com doenças cardíacas, como por exemplo, a cardiopatia isquêmica.

A insuficiência cardíaca é considerada um grave problema de saúde pública. No mundo hoje existem diferentes alternativas terapêuticas de combate à doença, variando desde um acompanhamento clínico até transplantes cardíacos. Dentre as várias alternativas, a terapia com células-tronco tem ganhado destaque no meio científico como a mais promissora abordagem para esse tipo de doença.

Nesta entrevista exclusiva à Agência FAPEAM, Malheiro fala um pouco sobre o desenvolvimento da pesquisa que é inédita na região Norte e uma referência no Brasil. Acompanhe.  

Agência Fapeam – A pesquisa com células-tronco em pacientes com cardiopatia isquêmica consiste em quê?

Adriana Malheiro – Consiste, por meio de medicação, coletar células-tronco do paciente e implantá-la posteriormente por cateterismo. O projeto é uma parceria entre o Hemoam e Hospital Universitário Francisca Mendes, da Ufam. O preparo da célula-tronco é feito no Hemoam e toda a parte clínica de tratamento do paciente é feita no Francisca Mendes, pela equipe de cardiologistas coordenados pelo dr. Jaime Arnez.

Agência Fapeam – A pesquisa pretende chegar a quais resultados?

A M – A literatura científica sugere que, em pacientes cardíacos, o uso de células-tronco direcionados ao coração facilita o seu implante e irrigação, porém há poucos estudos clínicos nesse sentido. Além disso, existem várias rotas de administração de células-tronco no coração, no entanto a melhor via para que as células sejam implantadas e se estabeleçam no local não está bem definida.

Agência Fapeam – Onde buscaram recursos para desenvolver o projeto?

A M – O projeto teve aprovação no Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS) da Fapeam em 2005 e no edital de Ciência e Tecnologia do CNPq, uma verba inicial de aproximadamente R$ 380 mil das duas instituições. Porém, devido a alguns problemas relacionados à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), a liberação para começarmos só foi nos dada no ano passado. A partir da liberação, adquirimos equipamentos, os reagentes e todo material necessário para a pesquisa. Em novembro de 2009, submetemos o primeiro paciente ao implante de células-tronco.

Agência Fapeam – Células-tronco é um tema polêmico. Quais células são utilizadas na pesquisa?

A M – As células-tronco que trabalhamos são as adultas. Não se pode confundir com a célula embrionária. Utilizamos a célula-tronco onomatopeica, que fica alojada na medula óssea. Ela tem a capacidade de formar novos vasos sanguíneos no coração e a consequência disso é a melhora dos batimentos cardíacos do paciente.

Agência Fapeam – Que tipo de pacientes se encaixa na pesquisa e quantos serão analisados?

A M – O Conep aprovou 20 pacientes. Os critérios são ter tido um infarto e apresentar uma lesão no coração. Nós iremos avaliar o grau desse infarto e saber se podem receber células-tronco. O limite máximo de idade é 70 anos, para não colocar em risco a vida do paciente.

Agência Fapeam – O paciente submetido ao implante em novembro do ano passado já apresenta algum resultado?

A M – São apenas três meses de tratamento. Só é possível fazer uma análise clínica confiável com seis meses, apesar de o paciente relatar melhoras.

Agência Fapeam – Podemos dizer que a pesquisa é referencial no Brasil?

A M – Com certeza. Pesquisas como essa levam tempo para se obter resultados. Vamos estudar, avaliar e publicar trabalhos referentes ao estudo. No Brasil, são apenas seis grupos que trabalham com implante de células-tronco em pacientes cárdicos. No Norte, somos o único. A equipe costuma dizer que esse projeto é regional, pois foi criado aqui, foi aprovado pelo Estado e os pacientes são todos daqui.

Carlos Fábio e Kelly Jhennifer – Agência Fapeam