19.05.2010

Ildeu de Castro Moreira já foi editor científico da revista “Ciência Hoje” , membro do Comitê Temático de Divulgação Científica do CNPq, do Conselho da Sociedade Brasileira de História da Ciência, da Sociedade Brasileira de Física e da Sociedade Brasileira em Progresso da Ciência (SBPC). Hoje, ele coordena o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em Brasília (DF).

Professor do Instituto de Física e do Programa de Pós-Graduação em História da Ciência e Epistemologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu, como é conhecido, conta que o Brasil tem problemas com a divulgação da ciência nos meios de comunicação de massa. Por isso, é importante pessoas capacitadas em jornalismo científico para valorizar esse tipo de informação.

Segundo ele, avançou-se na divulgação da ciência, contudo é preciso ampliar o espaço nos jornais impressos. Ildeu disse que existe certa tensão no relacionamento entre cientistas e jornalistas na divulgação científica. De um lado, os cientistas nem sempre estão disponíveis para atender os profissionais da comunicação. Do outro, os jornalistas precisam ter uma noção básica sobre ciência, caso contrário, correm o risco de não transmitirem a noticia a contento.

Em entrevista exclusiva à Agência FAPEAM, Ildeu fala sobre o trabalho dos cientistas e jornalistas envolvidos no processo de comunicação científica. Ele esteve em Manaus, na última semana de abril, para participar do curso de Capacitação em Jornalismo Científico – Ciência e Mídia. O evento foi promovido pela Fiocruz com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

Agência Fapeam – Podemos afirmar que o conflito entre cientista e jornalista é mundial, com base na sua experiência no exterior?

Ildeu de Castro – Na Europa, os cientistas são mais abertos aos jornalistas. Quando um jornalista telefona pra um cientista de uma universidade, mesmo esse sendo um prêmio Nobel, ele está mais aberto do que o cientista brasileiro a dar uma resposta. Isso se deve devido à questão do tempo do trabalho do jornalista. Hoje, o europeu já reconhece a importância da comunicação, além da tradição existente. No Brasil, isso ainda é muito recente.

Agência Fapeam – O que pode ser feito para melhorar a divulgação científica?

Ildeu de Castro – Temos que qualificar os estudantes de comunicação bem como os profissionais dessa área. Eles precisam entender melhor o que é ciência, ou pelo menos ter  noções básicas. Caso contrário, no caso dos estudantes, estes correm o risco de se tornarem  profissionais desinteressados em se aperfeiçoarem nessa área. Precisam fazer boas perguntas, preparar roteiros antes de entrevistar o cientista. Eles não podem chegar à entrevista sem saber o que perguntar. Fazer boas perguntas é um trabalho fundamental tanto de jornalistas quanto de cientistas, cada um dentro da sua área.

Agência Fapeam – A disparidade ainda é grande em relação à ciência entre o Sul/Sudeste quando comparado ao Norte/Nordeste?

Ildeu de Castro – Sim. Mas temos avançado em relação à questão. Todavia é preciso ressaltar que antes de analisar as disparidades regionais, há de se observar as disparidades sociais. Alguns dos principais museus no Rio de Janeiro, por exemplo, estão localizados na zona sul. A periferia não tem acesso. É necessário observar mais atentamente a questão. Por outro lado, a FAPEAM faz um belo trabalho ao descentralizar o acesso à ciência por meio do Programa Ciência na Escola (PCE), uma vez que permite que jovens do interior do Amazonas tenham a mesma oportunidade dos  jovens da capital.

Fonte: Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam