A região da costa brasileira entre os estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro passará por uma varredura que tem como finalidade investigar o plâncton. A pesquisa faz parte do projeto de doutorado de Marcio Tamanaha, da Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) e parte será financiada pelo Fundo Newton com contrapartida da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina). Serão pesquisados aspectos como biodiversidade, estrutura de comunidade, ecologia, indicadores de massas de água e biomassa.

O estudo do plâncton na costa brasileira se deve ao papel que estes organismos exercem na vida marinha, fornecendo alimento a níveis superiores de diversas cadeias alimentares, e atuando na reciclagem do carbono. O fitoplâncton é responsável por 50% da produtividade primária global (fotossíntese e quimiossíntese), e o zooplâncton é presa para peixes juvenis, aves marinhas, cetáceos e moluscos.

vor univali tamanho menor
Veículo Oceanográfico de Reboque da Univali (Marcio Tamanaha – arquivo pessoal)
O ecossistema marinho no litoral brasileiro é considerado bastante variado, permitindo atividades pesqueiras. “Peixes de importância econômica são dependentes do plâncton, direta ou indiretamente. Isso significa que diversos estudos no ecossistema marinho incluem o componente plâncton, seja através de investigação sobre abundancia, diversidade, buscando uma compreensão dos recursos avaliados e o monitoramento, manejo e modelagem de sua resiliência”, diz o coordenador da pesquisa no Brasil. O plâncton também é um importante indicador de mudanças climáticas.

A varredura das águas de Itajaí (SC) a Cabo Frio (RJ) será realizada por um VOR (Veículo Oceanográfico de Reboque), desenvolvido com base em um coletor contínuo de plâncton denominado CPR (Continuous Plankton Recorder). Essa tecnologia é produzida em laboratórios do Sahfos (Sir Alyster Hardy Foundation for Ocean Science), parceiro britânico no projeto. O CPR possui uma carcaça de aço de aproximadamente 90 kg, com um orifício para entrada da água. Na parte interna possui um sistema de coleta, chamado de cassete, composto por dois rolos de malha de seda, sendo uma malha filtrante e uma malha de cobertura. 

Tamanaha explica como funciona o sistema: “durante os reboques (navios mercantes de passageiros) o giro da hélice permite o tracionamento das malhas coletoras e posteriormente a formação de um ‘sanduíche’ para o armazenamento dentro de um compartimento com fixador. Após um determinado tempo, o CPR é recolhido da água e o cassete armazenado em uma caixa estanque até o retorno ao laboratório”. 

A melhoria do VOR em relação ao coletor contínuo é seu tamanho menor, sua leveza (devido à carcaça de fibra de virdo) e a possibilidade de uso em embarcações pesqueiras que atuam em águas neríticas (camada de água sobre a plataforma continental, que tem até 200 m de profundidade, e que não sofre influência das marés). Ele poderá ser usado, por exemplo, em embarcações de pesca de sardinhas.

As amostras recolhidas pelo VOR serão analisadas no laboratório da UNIVALI, de acordo com o padrão metodológico do Sahfos. A principal vantagem no uso do CPR é a possibilidade de fazer a varredura de uma grande extensão do oceano (em torno de 400 milhas náuticas) de maneira ininterrupta e autônoma, enquanto métodos tradicionais, com garrafas e redes, realizam coletas pontuais.

A segunda etapa do projeto, prevista para o meio deste ano, consiste na realização de um workshop com amostras do VOR, voltado para estudantes, pesquisadores, técnicos e profissionais da área da oceanografia.O objetivo é realizar um treinamento para identificar plâncton e disseminar o conhecimento adquirido sobre ele com a nova metodologia de coleta. Os participantes também vão observar espécimes de outras regiões oceânicas, como o Atlântico Norte e Mar do Norte.

O primeiro contato de Marcio Tamanaha com o instituto britânico começou em 2013, quando surgiu oportunidade de realizar um estágio em identificação de plâncton coletado pelo CPR. Em 2014, o pesquisador estudou seis meses em Plymouth, no Sahfos, com bolsa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para doutorado sanduíche. 

Fonte: Jéssica Trombini – FAPESC