Pesquisadores da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) de Ituporanga realizaram testes com cinco cultivos de cebola para descobrir qual a influência do adubo orgânico na produção de sementes. A motivação do grupo foi a inexistência de dados sobre a adubação orgânica tanto no sistema convencional, quanto no agroecológico (sem uso de agrotóxicos). Durante dois anos, o projeto teve apoio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) por meio do edital Universal, que atende a todas as áreas do conhecimento.

Os resultados obtidos com a adubação orgânica de cebola foram comparados com os da produção convencional de campo aberto e sob abrigo. “Podemos dizer que obtivemos resultados satisfatórios para algumas cultivares e bons para outras. Mas o mais importante é que com o sistema de cultivo protegido conseguimos viabilizar a produção de sementes de cebola em sistema orgânico, reduzindo o risco de perdas por problemas climáticos. No futuro, outros aspectos deverão ser pesquisados, como por exemplo, o manejo da irrigação neste sistema”, relata o coordenador do estudo, Hernandes Werner.

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Foto: Hernandes Werner – Epagri

O rendimento da produção de sementes de cebola, em geral, é avaliado em percentagem do peso de bulbos plantados, e não por área plantada. Não houve efeito significativo das diferentes doses de composto orgânico na produção de sementes em nenhum dos cultivares testados, o que pode estar relacionado à menor necessidade de nutrientes que a cebola apresenta na fase de produção de sementes. Os solos usados para o teste também já apresentavam fertilidade bastante alta, resultado de 14 anos de manejo agroecológico do solo, favorecendo o desenvolvimento das plantas. No entanto, existem dificuldades paraessa produção a campo aberto no sistema agroecológico no Alto Vale do Itajaí, devido ao uso de mecanização inadequada e de agrotóxicos, ao monocultivo e à falta de ações para combater a erosão.  Tais práticas degradaram grande parte dos solos das lavouras, que se tornaram mais dependentes de insumos e menos produtivas.A solução proposta pelos pesquisadores é aliar o cultivo protegido à adubação orgânica.

Nesta pesquisa foi utilizado o sistema de cultivo protegido, com abrigos geralmente feitos de plásticos transparentes que impedem o contato da chuva com as plantas. O clima constantemente nublado e as baixas temperaturas favorecem a infecção das plantas por fungos, como o míldio (Peronospora destructor), e provocam a quebra da haste floral, comprometendo a produção de sementes. De acordo com Werner, esse método “as mantém mais secas e dificulta a germinação de esporos de fungos patogênicos, colaborando para um cultivo mais sadio”. Com o cultivo convencional e protegido, a Epagri já havia obtido bons resultados na produção de sementes de cebola.

Os pesquisadores também optaram pelo sistema agroecológico, pois em 2008 foi regulamentada a Lei da Agricultura Orgânica (10831/03), que previa a proibição do uso de sementes convencionais em um prazo de cinco anos. Porém, devido às dificuldades de produzir sementes orgânicas, uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de junho de 2014, permite que a substituição seja feita de modo gradual: a partir de 2016, a CPOrg (Comissão da Produção orgânica) de cada estado produzirá uma lista com as espécies e variedades em que só poderão ser utilizadas sementes orgânicas, de acordo com sua disponibilidade no mercado e capacidade de atender às demandas locais.

Uma das exigências da produção orgânica é o uso de sementes orgânicas certificadas, e existem poucas opções disponíveis até agora. A região do Alto Vale do Itajaí possui 49 famílias de agricultores certificados, que se dedicam ao cultivo de alimentos orgânicos para consumo próprio e comercialização em feiras e estabelecimentos comerciais. “Quando foi elaborada, a norma pensou-se que um prazo de cinco anos seria suficiente para que as empresas privadas pudessem disponibilizar sementes orgânicas em quantidade. Isso infelizmente não ocorreu. Mesmo as públicas, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Epagri, não conseguiram produzir variedades mais adaptadas e disponibilizar sementes em quantidade. O principal problema está na área de hortaliças, que é o carro-chefe dos orgânicos”, explica o coordenador da CPOrg de Santa Catarina, Eduardo Amaral.

Para Werner, a certificação “é um passo necessário para alavancar a produção de cebola orgânica em Santa Catarina. Existe demanda dos agricultores ecológicos por esta semente e existe uma demanda de cebola orgânica nos grandes centros urbanos do país”. Em março deste ano, a cidade de São Paulo aprovou a Lei da Merenda Escolar Orgânica, que deve aumentar a demanda por cebola orgânica. O baixo custo dessa produção e o elevado retorno financeiro são os principais impactos econômicos para os produtores, e a pouca necessidade de fertilizantes reduz o impacto ambiental. “Santa Catarina tem a oportunidade de abastecer o mercado nacional, mas precisa de incentivo governamental, com políticas públicas efetivas voltadas à pesquisa, extensão rural e capacitação dos agricultores ecológicos. A produção orgânica de sementes de cebola é o primeiro passo”, completa o pesquisador.

Fonte: Jéssica Trombini – Assessoria da FAPESC