A fim de resolver problemas como o abate clandestino de animais e garantir a qualidade da carne comercializada, a empresa Engmaq, de Peritiba, do oeste de Santa Catarina, criou um abatedouro móvel. O projeto foi selecionado pelo edital PAPPE (Programa de Subvenção à Inovação em Micro e Pequenas Empresas), lançado pela FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) em 2012, e executado ao longo de dois anos.

A vantagem do uso do abatedouro móvel é a possibilidade de compartilhar sua estrutura entre os produtores de um mesmo APL (Arranjo Produtivo Local), deslocando-o para regiões onde não haja abatedouros regularizados e frigoríficos. “Outros impactos residem no fomento aos APLs, comércio local, saúde pública e impactos na própria Engmaq, como a contratação de nova mão-de-obra”, diz o diretor da empresa, Gerson Pilatti. 

A inclusão dos pequenos produtores no processo de produção pode atrair iniciativas públicas e privadas e dar aos municípios a opção de implantar o serviço de inspeção municipal para garantir carne de boa procedência à sua população, promovendo o desenvolvimento socioeconômico da região. Para realizar um abate são necessários, pelo menos, cinco trabalhadores, gerando novos empregos. “Os maiores ganhos serão os sociais, com destaques para indicadores como capital social, capacitação, geração de renda, valor da propriedade, dedicação e perfil do responsável”, afirma o engenheiro e empreendedor Daniel Galhart, coordenador do projeto.

abatedouro movel peritiba

Entre os benefícios que a instalação de um abatedouro móvel pode gerar, estão a redução do consumo de energia, o bem-estar animal, a compostagem de resíduos sólidos e o tratamento de efluentes. “Do ponto de vista de saúde pública, esse projeto vem somar aos cuidados que Santa Catarina tem como um dos maiores em segurança alimentar”, diz o diretor de administração da FAPESC, Gerson Bortoluzzi, que fez a avaliação final do projeto.

O uso comum da estrutura ainda leva à diluição dos gastos para instalar um abatedouro entre os diversos atores da cadeia produtiva. Enquanto a implantação de um abatedouro fixo custa cerca de R$ 1,3 milhão, um móvel com mesma capacidade de operação requer investimento de R$ 865 mil por local. Além disso, o investimento nas estruturas fixas anexas (vestiários, sistema de tratamento de efluentes, destinação de resíduos não comestíveis) é reduzido pela metade.

Em relação ao custo de operação, o abatedouro móvel se torna mais atrativo que um abatedouro fixo tradicional quando opera o dobro de tempo, considerando sua mobilidade. “Segundo as simulações realizadas, um abatedouro de suínos fixo operando uma vez por semana em um determinado local (situação bastante comum), em torno de 8 horas, opera com um custo aproximado de R$ 54,52 por suíno abatido a uma velocidade de 15 suínos por hora. Assumindo os mesmos pressupostos e havendo o compartilhamento da estrutura de abate entre 5 localidades, estimamos o custo de R$ 29,21 por suíno abatido”, detalha Pilatti.

O abatedouro móvel consiste em dois contêineres, sendo um para o abatedouro propriamente dito e outro para a câmara fria, que se sustentam em dois semi-reboques rodoviários, ao invés de uma única carreta, como estava previsto na proposta. Galhart explica que essa escolha “barateou os custos de produção, já que contêineres são adquiridos por preços muito menores do que uma carreta rodoviária”.

A estrutura do abatedouro foi planejada para atender exigências sanitárias do SISBI-POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal), do Ministério da Agricultura, com ambiente adequado ao abate de suínos e pequenos ruminantes. Os contêineres também possuem sistema de refrigeração, isolamento térmico e estruturas para sustentação dos equipamentos e transporte. O projeto recebeu validação do CIDASC (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) e resultou no registro de duas patentes no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual.

A montagem do abatedouro móvel contou também com auxílio da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), unidade Suínos e Aves, de Concórdia. Em setembro de 2014, o protótipo esteve em exposição em Chapecó, na Femix, feira realizada desde 1999 para impulsionar negócios de diversos setores da economia na região de Concórdia.

Por: Jéssica Trombini – Assessoria da FAPESC