30.07.2010

O salário da maioria dos brasileiros não é suficiente para que ele tenha acesso à recreação em cultura. Com uma renda mínima de R$ 510 ao mês, o trabalhador acaba gastando cerca de 30% do que recebe com a alimentação e não sobra o suficiente para aquisição, por exemplo, de brinquedos, jogos, celulares, livros, revistas, teatro, cinema, shows, dentre outros.

Os dados fazem parte da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008. O Instituto avaliou as características de dezenas de milhares de famílias espalhadas pelo Brasil quanto às despesas, por exemplo, com o item recreação e cultura segundo a faixa de renda. As informações foram apresentadas durante conferência na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFRN), em Natal, até esta sexta-feira (30/07).

Durante a palestra “Economia da Cultura”, Fábio Sá Earp, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o Brasil tem uma das piores divisões de renda do mundo. O país fica na frente apenas do Equador e da Bolívia. “Há 20 anos o cenário era pior do que hoje devido à alta inflação e uma política de salário mínimo pouco generosa. Hoje a situação é diferente. O reajuste tem sido acima da inflação. R$ 510, por exemplo, equivale a 300 euros, que é igual ao mínimo de Portugal. Mas temos que triplicar o valor”, salientou.

Gastos com entretenimentos

Segundo os dados apresentados por Earp, os gastos com entretenimentos dos muitos pobres, classe média alta, ricos e alta são, respectivamente, de R$, 8, R$ 87, R$ 240 e R$ 133. Isso é o reflexo da concentração de renda em determinadas camadas sociais. “Não adianta baixar o preço dos ingressos para shows. As famílias precisam ser subsidiadas. “As pessoas estão com fome de cultura. É só colocar um telão na praça que lota”, destacou.

Para a advogada que trabalha com licenciamento de obras de arte de artistas brasileiros, Cristiane Olivieri, o acesso ao entretenimento passa por toda uma discussão sobre as cadeias de produção cultural. Ela explicou que o governo, os artistas e os produtores culturais têm dificuldade em entender que um espetáculo envolve vários outros nichos do mercado, gerando impactos na economia e na vida das pessoas.

Segundo ela, o primeiro problema constatado envolve a formação profissional. Isso porque os produtores culturais, os técnicos cênicos e de luz, por exemplo, aprenderam na prática. “Um bom resultado se obtém com uma política que entenda toda a cadeia. Ainda não há essa visão global. Ficam apenas discutindo qual o impacto dos incentivos fiscais e se está regionalizado, dentre outros”, salientou.

Economia criativa

A economia criativa, de acordo com dados da Unctad, apresentados por Olivieri, foi a que mais cresceu no mundo, o dobro da tradicional. Ela afirmou que os países em desenvolvimento como o Brasil seriam os que teriam mais condições de ganhar com esse tipo de economia. Porém, não consegue porque não conversa internacionalmente.

Conforme Olivieri, em 2008, época da crise econômica mundial, a indústria de veículos, de bens, duas rodas, linha branca tiveram incentivos. Todavia, o mesmo não ocorreu com a cultura. O resultado foi a falta de recursos, em 2009, para investir nesse seguimento. “As pessoas têm interesse em investir na economia da cultura, todavia não têm capital. É preciso fortalecer a remuneração do brasileiro. Caso contrário, não teremos o consumidor final”, lamentou.

A resolução do problema, conforme Olivieri, passa pela capacitação. Quando o seguimento não é fortalecido na região Norte ou Nordeste para tirar a concentração dos grandes centros, não adianta disponibilizar recursos financeiros.

Fonte: Luís Mansuêto – Agência Fapeam