O artigo abaixo foi baseado nos relatórios técnico-científicos relativos à Chamada Pública 03/2012, e escrito pelo Prof. Gilberto Montibeller, coordenador científico de projetos da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina).
Terminou há poucos meses o período de realização de um conjunto de 12 projetos de pesquisas em saúde pública, de interesse direto para aplicação no Sistema Único de Saúde, o SUS. As pesquisas tiveram início há três anos, com a seleção dos projetos entre muitos que foram apresentados. O Programa de Pesquisas para o SUS (PPSUS/FAPESC) é conduzido por esta Fundação e envolve a participação da Secretaria de Estado de Saúde, do Ministério da Saúde e do CNPq, do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O desenvolvimento dos projetos envolveu 121 pesquisadores, todos profissionais de alto grau de formação acadêmica. Quase 60% têm doutorado e 30% são mestres ou especialistas. Ou seja, a grande maioria dos membros das equipes é pós-graduada. Isso é relevante, ainda mais porque são professores ou profissionais vinculados a instituições catarinenses. Estiveram envolvidas, na
média, 5 instituições em cada projeto de pesquisa. Geralmente universidades, incluindo algumas instituições estrangeiras.
As temáticas desenvolvidas são múltiplas, todas muito importantes para a saúde e qualidade da vida do ser humano. É o caso de um projeto que resultou na obtenção de informações inéditas sobre a dinâmica da disseminação do virus da AIDs (HIV) no Sul do Brasil. Outro resultado conseguido diz respeito a proliferação da tuberculose (TB) no sistema prisional, este que é o maior difusor da TB. Ambos os resultados constituem relevante contribuição para as Políticas Públicas que visam evitar ou diminuir esses tipos de doenças.
Outro conjunto de pesquisas é sobre exercícios físicos. Em uma, foi verificado o nexo entre boa alimentação e exercícios físicos na infância, para prevenir doenças do coração na idade adulta. Em outra pesquisa, foi verificado o melhor tipo de exercícios para idosos. A novidade foi a identificação de que cada pessoa deve ter o tipo (prescrição) de exercício adequado, para se obter o melhor resultado em termos da melhoria da qualidade de vida e para evitar doenças relacionadas ao envelhecimento. Nessa linha, foi pesquisada também a relação entre estilo de vida, como hábito de sedentarismo, com doenças crônicas.
Três pesquisas focaram o paciente em caso de hospitalização, sugerindo novas formas ou protocolos de atendimento. Para pacientes cardíacos, uma abordagem holística e humanística pela equipe de enfermagem, nos estágios pré e pós-operação do coração. Em relação a pacientes com trauma crânio-encefálico foram desenvolvidos três modelos de prognóstico. Eles permitem avaliação mais acurada de cada caso para um melhor cuidado, rápida melhora e breve volta da pessoa à vida ativa. A terceira pesquisa desse grupo resultou em evitar internações ou reduzir o período de hospitalização decorrente de problema na voz ou de deglutição. Aqui também foi desenvolvido um protocolo inovador, que permite diagnóstico precoce e breve tratamento. A tabela 1 apresenta uma síntese do exposto em forma discursiva.

Todos os resultados obtidos com o desenvolvimento dos projetos têm aplicação prática em saúde. Seja, por um lado, aqueles direcionados a melhorar as condições das pessoas que sofrem alguma doença; seja, por outro lado, aqueles direcionados à criação de serviços ou de políticas públicas para prevenir o surgimento de problemas de saúde na população.
Nesse sentido há também, como resultado, inovações em tecnologias da informação (TI) visando aprimorar a gestão do sistema de atendimento à saúde. Foi desenvolvido um software com dados e informações sobre o conjunto de pessoas que necessitam cirurgias eletivas e, inédito no país, um método de seleção, baseado em dados objetivos, para definir aquelas pessoas que necessitam ter prioridade no atendimento. Igualmente, foi criado um sistema sem precedentes de registro eletrônico na rede de urgência e emergência, que permite agilizar o atendimento à população. No conjunto relacionado à TI, houve também a criação de uma plataforma dinâmica com dados sobre mortalidade materna, para melhorar o atendimento de parturientes. E, também, uma plataforma eletrônica com dados e tabulações sobre problemas de intoxicações na população, importante como subsídio a políticas públicas de prevenção (eliminação de riscos) em relação a produtos tóxicos.
Além da produção diretamente direcionada ao SUS visando melhorar o atendimento do sistema de saúde, há a produção científica. Esta é representada, basicamente, pela produção e publicação de artigos e apresentações em eventos de difusão do conhecimento. No total foram publicados, durante o prazo das pesquisas, 43 (quarenta e três) artigos em periódicos especializados, inclusive internacionais (9 artigos). Também foi publicado um livro e, ainda de cunho científico, houve a conclusão de 8 teses e dissertações sobre as temáticas relacionadas aos projetos. Ocorreram, também, 19 apresentações de resultados em eventos científicos.
Os números acima dão a dimensão do que foi realizado durante o prazo estabelecido para a execução dos projetos e apresentação de resultados pelos pesquisadores responsáveis. As atividades, para muitas equipes, continuam mesmo após o encerramento formal do período de execução, com novos desdobramentos, mais publicações e apresentações em eventos. A difusão de resultados é importante pois além das instituições vinculadas ao SUS, outras, públicas e privadas, nacionais e internacionais poderão utilizar-se do avanço do conhecimento na área da saúde conseguido pelas pesquisas realizadas em Santa Catarina, com amplo benefício para diversas populações humanas.
Finalmente, cabe referência a outras duas dimensões importantes observadas como resultados dos projetos desenvolvidos para a área da saúde. Uma, a dimensão econômica; outra a ambiental. À medida que medidas de prevenção de doenças e novos protocolos de tratamento são postas em prática, como visto, muitas hospitalizações passam a ser evitadas ou, quando ocorrem, tem seu tempo reduzido. Isso significa redução de gastos de recursos públicos e, também, ganho econômico pelo breve retorno da pessoa afetada à vida econômica ativa. A dimensão ambiental, por seu lado, é atendida pelo mesmo motivo, pois menos internações e redução do tempo de hospitalização evitam ou reduzem a produção de lixo hospitalar, que é um dos rejeitos de mais difícil descarte.
Os resultados aqui apresentados se referem a realizações correspondentes a um edital ou rodada de pesquisas do PPSUS/FAPESC. Sete editais (chamadas públicas) nesse sentido foram lançados nos últimos dez anos, segundo a coordenadora do Programa, a fonoaudióloga Fernanda B. Antoniolli, com resultados igualmente importantes. E dado o sucesso quanto à obtenção de resultados, que inclusive vem aumentando, outros editais serão periodicamente lançados; neste exato momento, está na fase de ajustes iniciais uma nova rodada, com projetos selecionados em nova chamada pública recentemente lançada.