Sete pesquisadores de diferentes instituições de Santa Catarina trabalharam durante três anos no desenvolvimento de uma vacina contra a fasciolose, doença causada por um parasita que afeta o fígado de bovinos e ovinos. Na fase inicial, foram realizados testes em ratos, e o próximo passo é testar o antígeno em ruminantes, que é a espécie alvo. O projeto foi coordenado por Ricardo E. Mendes, professor do Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Veterinária do Instituto Federal Catarinense (IFC) e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) no Programa Universal, que atende todas as áreas do conhecimento. Também participaram do estudo pesquisadores da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC) e Centro Universitário Barriga Verde(UNIBAVE).
 

O projeto avaliou o nível de proteção em ratos, após a aplicação de um antígeno obtido a partir de larvas de Fasciola hepatica, contra a infecção experimental pelo mesmo patógeno. Os pesquisadores observaram uma redução média de 51% na carga parasitária e de 44,8% no número de ovos eliminados nas fezes. A comparação foi feita entre o grupo imunizado pela vacina e posteriormente infectado, em relação ao grupo infectado ao qual não foi administrada a vacina.
O objetivo foi estimular o sistema imunológico a combater os parasitos no período de migração larvária, antes da sua chegada ao fígado. A fasciolose é uma doença de distribuição mundial, e, de acordo com a literatura levantada pela equipe, as perdas por condenação de fígado em abatedouros podem chegar a 80% em áreas endêmicas em ruminantes adultos, 40% em novilhos e novilhas, e 10% em cordeiros. Infecções subclínicas em bovinos leiteiros reduzem em 8% a produção de leite. No Brasil, a fasciolose aparece principalmente nas Regiões Sul e Sudeste, com prevalências que variam de 6,3 a 27,2%.
Segundo o coordenador da pesquisa, a imunoprofilaxia é o método mais promissor de controle estratégico, visando à segurança alimentar e a minimização do uso de quimioterápicos. A fasciolose  é controlada pelo uso de anti-helmínticos de maneira profilática e terapêutica, mas o grande número de tratamentos leva ao risco potencial de resíduos da droga nos produtos cárneos e lácteos. Os tratamentos almejam limitar o dano e reduzir as perdas ocasionadas pelos ciclos de infecção, apresentando efeitos limitados no combate às reinfecções. Métodos alternativos de controle são necessários, sendo as vacinas uma opção satisfatória. Outro resultado do projeto foi a submissão da patente ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) para uso da proteína recombinante testada como vacina.
Fasciola hepatica foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um patógeno emergente ao homem. Estima-se que 17 milhões de pessoas estejam infectadas no mundo, e que 180 milhões estejam em risco de infecção em países como Bolívia, Peru, Egito e Irã, onde a doença é altamente endêmica. A fasciolose é uma zoonose de transmissão alimentar, e já houve relatos de identificação de ovos do parasita em verduras nos estados de São Paulo e Paraná.
O estudo foi realizado em cooperação com centros de pesquisa internacionais renomados como: Texas A&M University (Estados Unidos), Warsaw University of Life Sciences (Polônia), Polish Academy os Science (Polônia) e Universidad de Córdoba (Espanha). Atualmente o Laboratório de Patologia Animal do IFC está produzindo metacercáreas de F. hepática para continuidade dos experimentos, e testando diferentes vacinas em bovinos e ratos, em projeto apoiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), IFC e FAPESC.
 
Fonte: Jéssica Trombini – Coordenadoria de Comunicação da FAPESC