Um grupo de seis pesquisadores do Laboratório de Morfogênese e Bioquímica Vegetal da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) conquistou uma patente pelo estudo do potencial cicatrizante de compostos bioativos presentes em cascas de banana orgânica e desenvolvimento de um hidrogel curativo. O fármaco à base de extrato aquoso das cascas apresentou mais eficácia na cicatrização quando comparado a outro curativo similar disponível no mercado. O projeto foi apoiado pela FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) no Programa Universal, e, além de ser um produto de origem natural, promove a reciclagem de resíduos da indústria de alimentos.

Aline diz que a conquista da patente em seu projeto é o reconhecimento da atividade de pesquisa, e contribuiu para sua colocação no mercado de trabalho. (Foto: arquivo pessoal)
Aline diz que a conquista da patente em seu projeto é o reconhecimento da atividade de pesquisa, e contribuiu para sua colocação no mercado de trabalho. (Foto: arquivo pessoal)

O método de extração dos compostos das cascas de banana prata anã levou à obtenção do registro de uma Patente de Processo junto ao Departamento de Inovação Tecnológica/UFSC, em parceria com a EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e o LNBio (Laboratório Nacional de Biociências). “A influência dessa conquista é o reconhecimento da atividade inventiva no currículo dos pesquisadores, o que contribuiu para a minha colocação no mercado de trabalho como cientista em uma indústria multinacional”, diz Aline Pereira, coordenadora da pesquisa, que resultou em sua tese de doutorado em Biotecnologia e Biociências.
A partir do estudo também foram gerados um Trabalho de Conclusão de Curso; um capítulo de livro, intitulado “Bioactive Compounds of Banana as Health Promoters”, elaborado por Aline Pereira, Rodolfo Moresco e Marcelo Maraschin; e um artigo intitulado: “Banana (Musa spp) from peel to pulp: Ethnopharmacology, source of bioactive compounds and its relevance for human health” publicado no Journal of Ethnopharmacology.
O hidrogel de álcool polivinílico (PVA 10%) com extrato aquoso de cascas de banana apresentou potencial cicatrizante mais eficaz quando comparado a outro curativo similar disponível no mercado. Nos testes em laboratório realizados com camundongos, o extrato proporcionou total cicatrização da lesão em menor período de tratamento, comparativamente aos animais dos grupos de controle. “Os extratos demonstraram potente atividade cicatrizante, sugerindo que a seleção de espécies para o desenvolvimento de fitofármacos é bastante útil, podendo inclusive agregar valor a um resíduo da indústria de alimentos”, explica a coordenadora da pesquisa. O produto, puro e contendo o extrato em sua composição, não apresentou sinais de citotoxicidade no ensaio in vitro e demonstrou valor de pH próximo ao fisiológico, sendo considerado biocompatível. Ele pode ser utilizado em lesões na pele e para cicatrização de pequenos cortes.
Bananal em Jacinto Machado. Foto cedida por Luiz Peruch, da EPAGRI Bananal em Jacinto Machado. Foto cedida por Luiz Peruch, da EPAGRI
A casca de banana tem uso popular como agente cicatrizante, mas existem poucos estudos relacionados ao seu aproveitamento, mesmo em outras áreas de pesquisa: “alguns artigos tratam de diferentes aplicações práticas para a casca de banana, por exemplo a produção de álcool, metano, alimentação para gado ou adsorventes à purificação de água”, relata a pesquisadora. Sendo um produto natural, as cascas também poderiam ser utilizadas como compostos funcionais na nutrição humana e na prevenção e cuidados com a saúde. “Compostos fenólicos, flavonoides, ácidos graxos, fitoesteróis e carotenoides são alguns compostos de alto valor já identificados em cascas de bananas”, completa Aline.
As amostras para realizar o estudo foram obtidas em Urussanga, na estação experimental da EPAGRI. A maior vantagem em seu uso como matéria-prima e fonte dos compostos bioativos é que as cascas são um resíduo gerado pela indústria de alimentos que é pouco explorado, geralmente utilizado em compostagem ou apenas descartado.
 
Fonte: Jéssica Trombini – Coordenadoria de Comunicação da FAPESC