Um artigo sobre a relação entre biodiversidade e produtividade das florestas, publicado em 14 de outubro na revista Science, marca a primeira grande conquista da equipe GFBI (Iniciativa Global de Biodiversidade em Florestas) da qual o IFFSC (Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina) faz parte. Fundada em 2016, a GFBI é uma cooperação internacional de investigação interdisciplinar e multi-institucional que visa melhorar a compreensão dos padrões e processos que agem em larga escala nos quatro bilhões de hectares de ecossistemas florestais.
A equipe do IFFSC, da Universidade Regional de Blumenau (FURB), integra um grupo de pesquisadores de 90 instituições do mundo todo que analisou dados de inventários florestais baseados em mais de 700.000 parcelas permanentes medidas durante os últimos 20 anos em 44 países. A pesquisa resultou no artigo com o titulo A relação positiva entre biodiversidade e produtividade das florestas – um estudo global”.
 
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De acordo com o prof. Alexander Christian Vibrans, coordenador do IFFSC e co-autor da publicação na Science, as 1074 parcelas do inventário catarinense, distribuídas em todo território do Estado, constituem a maior base de dados contínua dentro da América do Sul e contribuíram para a modelagem da relação entre biodiversidade e incremento das florestas no nosso continente. Para Vibrans, a inclusão dos dados catarinenses no estudo é o reconhecimento da qualidade dos minuciosos e inéditos levantamentos realizados em Santa Catarina desde 2007. O projeto da FURB que já obteve destaque em publicação na revista Nature em 2015 é financiado pelo governo de Santa Catarina por meio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina). Da equipe do IFFSC também fazem parte os professores André de Gasper, Débora Lingner, Júlio Refosco e LauriSchorn.
Efeitos globais
O grupo de pesquisadores da GFBI, coordenado por Jingjing Liang (West Virginia University), Peter B. Reich (University of Minnesota) e Thomas W. Crowther (Yale University), descobriu um efeito positivo e globalmente consistente que a diversidade de espécies arbóreas nas florestas exerce sobre a sua produtividade, isto é, sobre o incremento das árvores. O estudo revelou que em todas as regiões e ecossistemas terrestres da terra vale que, quanto maior o número de espécies de árvores das florestas, maior é a sua produtividade em madeira, biomassa e fixação de carbono. Por outro lado, foi comprovada a regra de que a perda de biodiversidade (causada por desmatamento, por degradação ou pelas mudanças climáticas) resulta em uma diminuição significativa da produtividade florestal. Esta relação tinha sido postulada pelos modelos teóricos da ecologia por um longo período, mas até o momento não havia sido observada em larga escala num estudo global.
Os resultados obtidos têm impactos tanto para a ciência como para a sociedade. Para a ciência porque contribuem para o entendimento do funcionamento dos ecossistemas terrestres; para a sociedade porque mostram que a conservação da biodiversidade não é apenas um fim em si mesmo, mas também uma necessidade econômica. Florestas com alta diversidade produzem mais madeira e biomassa, fixam mais CO2 atmosférico (o que é relevante para reverter o efeito-estufa) e fornecem maior quantidade de outros “serviços ambientais”: retenção de água da chuva e liberação contínua desta água para os cursos d’água e reservatórios subterrâneos; proteção da estrutura e fertilidade dos solos; regulação climática (local, regional e global) e reservatório de recursos genéticos da fauna e flora em geral.
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Florestas com alta diversidade são aquelas compostas por muitas espécies de árvores diferentes; o termo se aplica a florestas tanto nas regiões boreais e temperadas (onde apenas poucas espécies compõem a floresta), como nas “megadiversas” florestas tropicais e subtropicais.
A equipe de pesquisadores também estimou o valor econômico da biodiversidade na manutenção apenas da produtividade florestal “comerciável” em cerca de US$ 490 bilhões por ano. Esse valor representa mais do que o dobro do custo total estimado necessário para conservar de forma eficaz todos os ecossistemas terrestres. Isto quer dizer que os benefícios da proteção da biodiversidade são muito maiores que os custos de medidas efetivas de proteção de todas as florestas somariam (se fossem realmente tomadas).
A descoberta destaca a necessidade de uma reavaliação de valores monetários atribuídos à biodiversidade, além das estratégias do manejo das florestas e das prioridades de conservação. A perda de diversidade das florestas também ameaça as pessoas que vivem no meio rural e dependem diretamente dos recursos florestais: perda de produtividade florestal resulta em perda de renda e bem estar destas populações. Portanto é imprescindível tomarmos medidas urgentes para melhorar a proteção e o manejo das florestas – para enfrentar os riscos de perda de biodiversidade.
 
Texto e fotos: IFFSC, com adaptações da FAPESC